Fotografia panorâmica Canarana-Bahia
Objetivo: Visitar o Meliponário Rei da Mandaçaia e conhecer meu amigo até então virtual, Márcio Pires.
Apesar do cansaço dirigindo sozinho, o panorama de vegetação típica do semi-árido em muitos locais, a partir de Correntina, compensa qualquer esforço! Mais adiante, deixando para trás Santa Maria da Vitória e São Felix do Coribe, já na área próxima da grandiosa ponte sobre o Rio São Francisco em Bom Jesus da Lapa, surpreso deparei nas margens da rodovia, com imenso bananal a perder de vista, do Projeto Formoso, de ambos os lados da pista.
E divaguei: "Estranho, a dona Rede Globo e outros canais de TV quase sempre mostram miséria no nordeste como se esse fosse o denominador comum de toda região, e não é isso que vejo aqui nem na viagem que fiz anteriormente até o semi-árido da Paraíba..."
A partir de Ibotirama, peguei a BR que corta a Chapada Diamantina, com suas serras compondo um panorama majestoso - tantos grandes e pequenos detalhes compensam o esse desgaste físico.
Num e noutro ponto manchas de amarelo ouro das floradas dos ipês ou caraíbas. Deixando a região da Chapada, fui rumo ao sertão baiano!
Inesquecível acolhida tive em Canarana e Hidrolândia, na primeira, casa do João Neto, irmão de Márcio, e depois, em Hidrolândia, onde este mora com demais familiares... aliás, visita de vez em quando haja vista o curso de mestrado que faz em Cruz das Almas.
A atividade agrícola em Canarana é notável na produção de cebola, tomate, cenoura, dentre outros produtos relacionados a olericultura. Caminhões saem dali abastecidos rumo a grandes centros consumidores.
A beleza das abelhas indígenas da Bahia
Em Canarana, Márcio mantem diversas caixas de uruçú nordestina (M. scutellaris), rajadinha (M. asilvai), mandaçaia (M. q. anthidioides).
Já em Hidrolândia, caixas de Tubi (Scaptotrigona sp.) e mandacaia (M. mandacaia) - atenção é mandacaia mesmo, sem cedilha.
Márcio abriu diversas caixas para eu ver, e demonstrando idoneidade e respeito, na franqueza dizia "esta caixa não está boa e não vou lhe entregar coisa ruim" - quando um enxame, apesar de estabilizado, ainda estava desenvolvendo-se em razão de divisão mais recente.
Dificil não expressar encantamento com a beleza das Meliponas q. anthidioides e as Meliponas mandacaia, ambas com o abdomen preto, adornados com listas amarelas paralelas, na primeira entrecortado ao meio no seguimento, na segunda, listas contínuas paralelas.
Em Hidrolândia, pequeno distrito ao pé da serra, local muito bonito, aprendi um pouco mais sobre meliponicultura.
Márcio, didático e atencioso, num momento fez uma divisão para eu ver como era sua técnica, assim como o uso de alças que seriam de sobreninho, usadas como ninho também, portanto sem fundo fixo!
Explicou-me que procedendo dessa forma, facilita divisões futuras, sem ter que mexer manualmente nos discos de cria. Ao separar a alça superior (sobreninho) da alça ninho, já sai grudado naquela o numero de discos de cria ideal para formar um novo enxame. O resto do procedimento é o de praxe, deixando a nova caixa no local da antiga e esta, com a rainha, é colocada noutro ponto distante de onde estava. Resumo, suas caixas nunca tem a alça do ninho (rs!), são todas sobreninho. E perguntei, "Mas o furo de entrada aberto quando usamos ela como sobreninho mesmo?" -Elas simplesmente tampam, ou você tampa, ou elas usam as duas entradas até decidirem por si mesmas qual irão fechar...
Valeu a aula, rápida e objetiva - vou usar o método praticado por ele. Simples e prático, sem muito contato manual com os discos de cria! Praticamene apenas o necessário para abrir o invólucro e visualizar a quantidade e qualidade dos discos, sem tocar neles, constatando a viabilidade da divisão ou não.
De uma das caixas de mandacaia, ele coletou mel para que eu experimentasse! Desnecessário dizer, mas estava boooooom demais! Uma coisa é degustar mel comprado em garrafas, outra é tomar dele imediatamente após a coleta!
A visita a um criador de M. q. anthidioides em Canarana
Junto com João Neto, visitamos a casa do sr. Mariano, que não estava mas fomos atendidos por seu filho.
No amplo quintal nos fundos, sob o pé de tamarindo, diversas caixas compridas na horizontal (caixa baiana) com enxames super fortes de Mandaçaia. Márcio bateu numa delas - o que saiu de abelhas! A ponto do rapaz perguntar, se ele tinha batido em mais de uma caixa.
Deixando essa visita e procurando por mel de mandaçaia, descobrimos um senhor que tinha alguns litros pra venda, mas bem ao estilo rústico, sem coar...e com certeza, sem uso de seringas de sucção. Perito em méis, Márcio destampou as garrafas (tampa de sabugo de milho!) e apesar das impurezas, era mel puro. Fiquei com dois litros, dos 3 que tinha à venda. Já maturado, mantido fora de geladeira, mas em local fresco dentro da casa.
Interessante foi o aparte do meliponicultor das antigas, afirmou que tinha participado de um curso sobre o assunto envolvendo caixa racional INPA, mas "não gostei, prefiro assim, usando minhas caixas do jeito que sempre fiz".
As caixas dele são do modelo baiano.
Momento da despedida
Boas recordações dessa viagem eu trouxe comigo para o Mato Grosso. O carinho da receptividade de todos os familiares de Márcio Pires e dele mesmo. De sua honestidade naquilo que vende e do compartilhar conhecimentos! Muito obrigado!
E também, a certeza de que meu país é rico em todas as regiões - antes de presumir ou prejulgar uma região geográfica nos seus aspectos socio-econômicos, primeiro tenho que me permitir conhecer pessoalmente, do contrário estarei formando uma opinião baseada em notícias da TV, nem sempre de acordo com a realidade.
O detalhe das casas de pedra na região rural dos familiares de Márcio, além do carinho do povo, da beleza das abelhas indígenas da Bahia, e do seu Pedro Vaqueiro, um sertanejo típico e orgulhoso de assim ser, trajado com roupas de couro, ficaram gravados para sempre no meu coração!"
Fotos: José Luiz